Para alguns economistas de inspiração mais teórica, considera crescimento sinônimo de desenvolvimento, porém outra corrente voltada para realidade empírica (prática), entende que o crescimento é condição indispensável para o desenvolvimento, mas não é condição suficiente.
A experiência tem demonstrado que o desenvolvimento econômico não pode ser confundido com crescimento, porque os frutos dessa expansão nem sempre beneficiam a economia com um todo e o conjunto da população. É de consenso da maioria dos economistas que desenvolvimento econômico define-se, pela existência de crescimento econômico contínuo, em ritmo superior ao crescimento demográfico, envolvendo mudanças de estruturas e melhoria de indicadores econômicos, sociais e ambientais. Com o desenvolvimento há uma melhora no nível de bem-estar e também a economia adquiri mais estabilidade e diversificação. Uma definição mais completa de desenvolvimento exige, portanto, outras indicações de como está comportando no tempo, tanto o produto (riqueza) como a população, em termos de maior produtividade e melhores níveis de bem-estar social.
Nesses 54 anos de emancipação política, Rondonópolis tem sido um exemplo de crescimento econômico para o Brasil, pois o interesse de várias empresas nacionais e multinacionais em instalar-se no município em razão dos incentivos fiscais e da localização privilegiada da matéria prima é o principal motivo desse crescimento. Dessa forma a cidade tem sido favorecida com o aumento de arrecadação de impostos e com a geração de emprego. O município tem apresentado elevadas taxas de crescimento econômico nas últimas décadas, ampliando-se sua participação no PIB estadual e se destacando como uns dos maiores exportadores do país, pois conforme Relatório do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Rondonópolis concentra o posto de primeiro lugar nas exportações de Mato Grosso e de 22º entre os 100 maiores exportadores do país.
Entretanto a estrutura social do município ainda é bastante precária, e o aumento contínuo da riqueza proporcionada pelo agronegócio tem sido favorável a poucos em virtude da concentração da renda. Enquanto de um lado surgem bairros com total infra-estrutura (asfalto, rede de esgoto, iluminação, etc), por outro lado aumenta à proliferação dos bolsões de pobreza (bairros sem estrutura). O crescimento econômico não tem sido um fator tão importante para dirimir a desigualdade de renda e de capital que há tantos anos predomina na cidade. O último levantamento oficial da qualidade de vida da população apontou que o município é o 14º do Estado e 780º do País no IDH (Índice de Desenvolvimento Econômico).
Apesar da economia indicar nos últimos anos uma melhora no desempenho econômico (aumento da riqueza) em virtude do forte crescimento do agronegócio, a pobreza e a concentração de renda ainda continuam. A reestruturação e modernização do processo de produção agrário-exportador de produtos primários (em especial, de soja e de algodão) incentivaram a criação de novos empregos, diretos e indiretos, gerando renda e consumo para uma reduzida parcela da população local. Este modelo que, de um lado, exigiu forte atualização tecnológica e atraiu novos investimentos para a estrutura produtiva local, bem como inúmeros profissionais qualificados para a região, na expectativa de participar dos ganhos auferidos do forte crescimento econômico observado no agronegócio, por outro lado, contribuiu para agravar os problemas sociais. Pondera-se então que a estrutura social local não acompanhou a reestruturação produtiva local. No entanto, a questão da distribuição de renda não se restringe apenas à concentração de capitais por parte dos detentores, mas o atual modelo de crescimento econômico de Rondonópolis com base agrícola gera enormes discrepâncias sociais, pois o aumento dos lucros favorece em maior grau os grandes proprietários de capital. Sendo que os salários dos empregados são constantemente atachados pela inflação e não são atrelados aos ganhos agrícolas.
É unânime que a expansão agrícola refletiu positivamente no crescimento econômico de Rondonópolis, porém, o efeito concentrador da agricultura ainda impede uma melhor distribuição da renda no Município, ocasionado assim, grandes discrepâncias sociais locais, em que se observa um movimento em que ricos ficaram mais ricos e os pobres um pouco menos pobres nos últimos anos, mais por conta dos benefícios sociais do governo do que pelo crescimento econômico local. Assim, salienta-se a necessidade do crescimento econômico local começar a beneficiar maior parcela dos salários reais daqueles ligados atividade produtiva local, garantindo assim acesso mais justo e igualitário e uma maior quantidade de bens e serviços disponíveis, bem como uma melhoria na qualidade de vida.
Apesar da estabilidade econômica e da diminuição da miséria proporcionada pelos programas sociais, há ainda uma forte tendência de concentração de renda. Esta tendência pode ser atribuída à desigualdade de ativos como terra e capital, característica marcante do modelo de crescimento econômico adotado.
O preocupante é que temos visto nos últimos noticiários que a grande preocupação das autoridades está mais focado no percentual de crescimento econômico e demográfico, porém nada adianta crescer se boa parte da parcela da população ainda continua vivendo da pobreza. É importante o aumento populacional para o aumento de recursos federais, porém é necessário que pensem antes nos índices sociais que refletem o contraste social na cidade.
A cidade não pode fica apenas a mercê de recursos oriundos da União e precisa em caráter de urgência de políticas municipais que norteiam definitivamente para um caminho que a qualidade de vida seja a principal política do governo municipal. È preciso atentar-se para o IDH (índice de desenvolvimento humano), e a partir daí desenvolver políticas que contemple toda a população e especialmente a parcela da população que vive a margem da miséria.
Por fim, é preciso avaliar até que ponto a riqueza produzida nesses 54 anos reverteu em benefícios para a população em geral sob a forma de melhores níveis de educação, saúde e etc. Diante disso é necessário repensar políticas sociais para os próximos 54 anos que transformam Rondonópolis em uma cidade mais igualitária e justa, ou seja, que o bem estar social esteja ao alcance de todos.
Thiago Alexandre é economista.